Biomedicina do Exercício no Esporte e sua relação com o Sistema Cardiovascular


O exercício físico pode ser compreendido como uma atividade que será realizada a partir de movimentos direcionados sistematicamente, os quais ocasionaram no indivíduo um aumento do consumo de oxigênio pela massa muscular. Como consequência, o mesmo apresentará respostas fisiológicas específicas para os diversos sistemas orgânicos (cardiovascular, respiratório, muscular, entre outros) (FONSECA et al., 2007).
O organismo dispõe de diversos mecanismos de produção de energia, síntese, degradação e remoção de compostos que compreendem o metabolismo basal de um indivíduo. A prática esportiva requer uma adaptação metabólica para atender à demanda energética acelerada, bem como a remoção de metabólitos desnecessários para o organismo. A adaptação orgânica depende do tipo, da intensidade e da duração do exercício. Para um bom condicionamento, é necessário que as funções orgânicas do indivíduo estejam plenamente ajustadas, pois a atividade motora implica graus de sobrecargas diferenciadas sobre os sistemas que compõem o corpo humano, marcadamente o muscular e o cardiorrespiratório (SIQUEIRA et al., 2009).
De acordo com Regenga (2000), é necessário que o corpo humano seja suprido continuamente de energia química para que assim possa desenvolver suas complexas funções. A passagem do repouso para a atividade física, induzidos pelo aumento de energia, faz com que mecanismos fisiológicos adaptativos sejam ativados no intuito de aumentar a oferta de metabólitos a serem utilizados como substrato energético. O tipo de metabólito utilizado vai variar de acordo com o tipo e a intensidade do exercício que está sendo executado, assim como o grau de condicionamento cardiovascular do indivíduo e seu estado funcional.
A capacidade do corpo para suportar esforços físicos está relacionada com mecanismos de adaptação às solicitações que o corpo sofre de agentes externos e internos. Por este motivo, é importante atentar para a individualidade biológica na prática da atividade física como já havia verificado o filósofo grego Aristóteles (384 – 322 a.C.) (KOOGAN; HOUAISS, 1994).
A busca pela melhoria na performance esportiva encontra no treinamento os estímulos geradores do processo de adaptação do organismo, visando aperfeiçoar o seu desempenho na execução de habilidades específicas. Porém, o excesso de estímulos leva a uma adaptação bionegativa e contém uma exigência exagerada do sistema, com momento de prejuízo (COCCHIARALE, 2001; WEINECK, 2000).
Os efeitos fisiológicos do exercício podem ser classificados em agudos e crônicos. Os efeitos agudos, por sua vez, podem ser produzidos em associação direta com o exercício, como a elevação da frequência cardíaca e da ventilação pulmonar, com produção de calor e em consequência, sudorese. Os efeitos agudos podem apresentar manifestações nas 24 a 72 horas seguintes, com a discreta redução dos níveis tensionais, a expansão do volume plasmático e o aumento da sensibilidade insulínica na musculatura esquelética. É, portanto, reconhecido que a atividade física de intensidade moderada ou vigorosa apresenta benefícios para a saúde. Os efeitos crônicos do exercício regular vão igualmente influenciar beneficamente o sistema cardiovascular, com aumento do débito cardíaco, fluxo sanguíneo redistribuído com consequente melhora da perfusão muscular. O aumento do débito cardíaco ocasiona aumento da pressão arterial sistólica enquanto a redistribuição do fluxo sanguíneo ocasiona diminuição da pressão arterial diastólica, com consequente diminuição da resistência periférica (FONSECA et al., 2007).
            O sistema cardiovascular, portanto, integra o corpo como uma unidade e proporciona aos músculos ativos uma corrente contínua de nutrientes e de oxigênio, de modo que pode ser mantido um alto rendimento energético. O coração é “acionado” na transição do repouso para o exercício por um aumento na atividade simpática e uma redução na atividade parassimpática integrada com o influxo proveniente do comando central no cérebro (McARDLE et al., 1998).
Diante disso, atualmente, para uma melhor e maior compreensão sobre o assunto faz-se presente no meio científico uma importante ferramenta, a fisiologia do exercício, a qual pode ser definida como uma área que procura investigar como as estruturas e funções de nosso organismo se alteram quando realizamos o exercício agudo ou crônico, enquanto que a aplicação destes conhecimentos ao esporte, denomina-se fisiologia do esporte, uma subárea da fisiologia do exercício (WILMORE; COSTILL, 2001).
 Dentre os tópicos estudados na fisiologia do exercício, destacam-se os procedimentos fisiológicos, físicos, táticos, técnicos, nutricionais (ergogênicos), biomecânicos, psicológicos e farmacológicos, que utilizados de forma separada ou em conjunto, são capazes de aprimorar a capacidade de realizar trabalho físico (SILVA et al., 2006).
Em resumo, fica evidente que o biomédico tem total capacidade para atuar nessa área, principalmente, avaliando o perfil bioquímico e hematológico desses indivíduos, bem como desenvolvendo materiais e equipamentos que possam vir a melhorar a performance do mesmo. Tal avaliação funciona como uma ferramenta de estudo importante para a análise do metabolismo durante a prática esportiva, pois auxilia na identificação precoce de possíveis alterações fisiológicas que possam vir a interferir no desempenho e na saúde dos praticantes de qualquer atividade física.   


Referências utilizadas:

COCCHIARALE, N. F. B. R. Fatores condicionantes da síndrome de sobretreinamento (overtraining) em atletas de judô: um estudo de caso. 2001. Monografia (Pós-Graduação) – Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro.
 FONSECA, W. L. M. S.; FONSECA, M. M. A.; OLIVEIRA, I. R. S.; MIRANDA, D. B.; PRADO JÚNIOR, P. S. Influência do Exercício Leve na Pressão Arterial de Idosos em uso de Anti-Inflamatórios Não Hormonais. Disponível em: http://webserver.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/05/cadernos_n05_online.pdf#page=84. Acesso em: 12 mar. 2011.
 KOOGAN, A.; HOUAISS, A. Enciclopédia e dicionário ilustrado. Rio de Janeiro: GUANABARA KOOGAN, 1994.
McARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. Rio de Janeiro: GUANABARA KOOGAN, 1998.
 REGENGA, M. M. Fisioterapia em cardiologia: da unidade de terapia intensiva à reabilitação. São Paulo: ROCA, 2000.
 SILVA, A. S. R.; PAULI, J. R.; GOBATTO, C. A. Fisiologia aplicada ao rendimento esportivo: bases
científicas do treinamento de alta performance. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd95/perform.htm. Acesso em: 12 mar. 2011.
 SIQUEIRA, L. O.; MUCCINI, T.; AGNOL, I. D.; FILLA, L.; TIBBOLA, P.; LUVISON, A.; COSTA, L.; MOREIRA, J. C. F. Análise de parâmetros bioquímicos séricos e urinários em atletas de meia maratona. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0004-27302009000700008&script=sci_arttext&tlng=em. Acesso em: 12 mar. 2011.
 WEINECK, J. Biologia do esporte. São Paulo: MANOLE, 2000.
 WILMORE J. H; COSTILL D. L. Fisiologia do esporte e do exercício. São Paulo: MANOLE, 2001.

Autor: Marina Frizzas, estudante de Biomedicin

Orientador: Prof. André Bellin Mariano, D.Sc.